Bons samaritanos do meu país, quando sentirem o ímpeto irresístivel de praticarem uma piedosa acção dominical, por favor, reconsiderem e ponderem as consequências dos vossos actos.
Vai uma pessoa e sua companhia canina, ambas felizes da vida, em passeio lânguido até ao supermercado. O clima está ameno, o céu azul, os passarinhos cantam e a perspectiva de voltar a ter o frigorífico (e a barriga) cheio, deixa-nos de bom humor.
Quase a chegar pensei em modo telepático via Milú: "estás cheia de sorte, agora enquanto esperas vais ficar aqui um bocadinho ao sol, coisa que adoras e de que precisas". E assim foi, atarrachei a bicha à entrada, num canto inundado com o solinho morno das 4h da tarde de um dia (ainda inverno) de Março. E lá fui à minha vidinha.
Passados uns 10 minutos comecei a estranhar o silêncio, dado que a rapariga é muito dada a cumprimentar toda a gente que entra ou sai. Vai daí, tal mãe galinha, larguei o cesto e fui à porta.
Nesse instante o coração parou, o sangue gelou e abriu-se uma cratera debaixo dos pés. Onde minutos antes estava uma Milú deliciada a absorver o calor, estava agora O vazio. Não sei quanto tempo passou, o mundo parou de girar, petrifiquei e o cérebro deixou de processar. Vazio, só vi o lugar vazio.
Ainda em estado catatónico lá consegui girar os olhos para a área em volta e vi um tufinho de pêlo, focinho no chão, amarrado a um poste uns 20 metros adiante e do outro lado da rua.
Que perdesse a compras e que os congelados derretessem, corri para a minha bolinha para ver se era real. Era! :)
Quanto aos anos de vida que perdi nestes micro segundos, posso passar a factura à alma caridosa que considerou que algum dono irresponsável e cruel (eu!!) tinha deixado o seu cão a arfar e a sofrer à chapa do sol.
Mesmo a suspirar de tremendo alívio, como bónus ainda parti uma unha a desfazer os infinitos
nós que conseguiram dar no fio da trela, tão ciosos estavam que a Milú não fugisse.
Ainda bem que há quem se preocupe com os animais, mas convém ter bom senso e pregar sustos capazes de provocar ataques cardíacos não faz parte da equação de "fazer o bem". Soubessem eles que em pleno Agosto obrigo (a muito custo, acreditem) a cadela a sair debaixo do sol do meio-dia, porque o que ela mais gosta é de fritar a moleirinha ao ponto do inconcebível. Na praia tem de ficar presa a 50 cm do guarda-sol, caso contrário vai para o meio do areal, no sítio mais escaldante, onde ninguém consegue sequer pôr os pés. No inverno dorme colada (entenda-se, literalmente encostada) ao radiador a óleo e enfia o nariz e os bigodes da grelha do radiador a gás. Já ouvi muitas vezes o fzzzzt de pêlo a ser chamuscado... Quando tem acesso a uma lareira, o caso é mais grave, com risco de se transformar numa galinha assada. O que querem, a miúda gosta de ambientes tórridos.
Oh well, regressadas a casa ainda com palpitações, o apetite desapareceu e isto só lá foi com um cházinho para acalmar os nervos e o estômago.
Para a próxima dediquem-se a salvar gatinhos, pode ser?
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